terça-feira, 7 de dezembro de 2010


Cartas de Buenos Aires
A onda agora é ser dono de vinhedo
















Um anúncio no jornal La Nación deste final de semana me chamou a atenção. Dizia o seguinte: tenha seu próprio vinhedo em Mendoza!

Resolvi investigar.

Descobri que por US$ 3 mil dólares um comum mortal pode alcançar o sonho de ter seu próprio vinhedo na região produtora mais renomada da Argentina. Um pequeno vinhedo, claro.

Pelo menos esta é a promessa do projeto Finca Própria, lançado recentemente. São 40 hectares no Vale do Uco, ao pé da cordilheira dos Andes, plantados com videiras de Cabernet Sauvignon, Malbec e Chardonnay com mais de dez anos de idade.

A área foi dividida em quatro mil cotas-parte, cada uma no valor já mencionado. A aquisição de uma cota corresponde a 24 videiras e dá direito ao proprietário de receber uma caixa de vinho por mês, durante os três primeiros anos, elaborado com as uvas da própria “finca”. Nenhum gasto extra no período.

Se o investidor quiser, pode ir ajudar na colheita, provar o vinho em suas diferentes fases de fermentação, opinar sobre o produto final. A partir do quarto ano, terá que pagar os gastos de manutenção e cultivo, o que pode ser feito com produto. O que sobrar, vira vinho.

Quem toca o projeto é Antonio Mas, agrônomo e enólogo que esteve por 17 anos à frente da Finca La Anita, uma das bodegas mais exitosas do país. Ele deixou a empresa este ano, para construir este negócio próprio, surpreendendo o mercado vitivinícola. Achei genial.

Mas ele mesmo avisa que este não é um negócio de alta rentabilidade, e sim lúdico, o que não significa que vá haver perdas por parte do proprietário.

O Finca Própria é uma versão “nacional”, mais simples e econômica de um modelo de negócio que surgiu recentemente na Argentina e que parece que está dando certo – os“private wine estates”. Estes sim investimentos de gente grande.

Há pelo menos dez negócios em andamento na região, como o Algodón Wines Estates, do grupo de investidores InvestProperty, o Tupungato Winelands, do grupo belga Burco, e o Gualtallary, da rede Sheraton.

Todos, com diferentes fórmulas, oferecem a possibilidade de investir em vinhedos sem as dores de cabeça da produção, aproveitando a infra-estrutura já montada, agrônomos, enólogos. Nesses casos, no entanto, o custo da brincadeira pode chegar a US$ 500 mil.

Alem das videiras, estas áreas funcionam também como luxuosos clubes de campo e incluem canchas de tênis, campos de pólo e golfe, e hotéis cinco estrelas para que o “produtor” possa ver in loco como estão suas uvas.

O mais famoso proprietário de vinhedo do momento é Gustavo Santaolalla, conhecido no Brasil por ser o produtor do filme e disco Café de los Maestros, do músico Jorge Drexler e do grupo Bajofondo.

“Embaixador” do vinho argentino no exterior, Santaolalla desenvolve dois rótulos em parceria com o violonista Raúl Orozco. Um dos vinhos se chama Celador, nome de uma das canções mais conhecidas do dúo Orozco-Barrientos, Celador de Sueños. O segundo é Don Juan Nahuel.

Nao à toa, Santaolalla, Orozco e Barrientos foram os músicos convidados para a cerimônia em que a presidenta Cristina Kirchner reconheceu o vinho como bebida nacional, mês passado.

Mas há outras celebridades nessa onda pelo mundo, como Jose Manoel Serrat com sua bodega Mas Perinet, Francis Ford Coppola com seus vinhos Sofía e ainda Gérard Depardieu com a marca Anjou.

E agora, quem sabe, anônimos como você e eu.

Gisele Teixeira é jornalista. Trabalhou em Porto Alegre, Recife e Brasília. Recentemente, mudou-se de mala, cuia e coração para Buenos Aires, de onde mantém o blog Aquí me quedo, com impressões e descobrimentos sobre a capital portenha

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