quinta-feira, 17 de junho de 2010

POLÍTICA DORME E A BOLA CORRE

Samuel Celestino

Podem acontecer episódios isolados de ordem política, mas é fato que estamos em pequeno recesso em consequência da Copa. Que é assunto único da população e da mídia. Os políticos dificilmente gastarão munição ou vão gerar acontecimentos de importância tendo consciência de que eles não terão repercussão, mesmo que registrados na imprensa.

Imprensa, aliás, que voltou a ser motivo de ataques petistas, em resolução emitida pela Executiva Nacional, a mesma que interveio no diretório estadual do Maranhão para impedir que o partido deixasse de apoiar Roseana Sarney, e não o candidato do PCdoB.

O comando petista usou do centralismo dos governos fortes, como a Coreia do Norte, que assustou o selecionado brasileiro, e a exemplo do Irã e da Venezuela, de Chávez, que há pouco determinou a prisão do diretor da principal emissora de televisão do país e do seu filho. Essa história de reclamar da imprensa é coisa velha. Já não surte o menor efeito, a não ser para a militância talibã. O curioso é que um partidão geléia geral como o PMDB também tentou ou tentará fazer o mesmo em relação ao diretório regional de Santa Catarina, que resolveu apoiar Serra. O vice da candidata, Michel Temer, não aceita. Considera um ato que o afronta e promete intervir.

Dificilmente o fará. Primeiro, porque o PMDB está quebrado, como sempre foi. Tem problemas semelhantes em São Paulo, no Mato Grosso do Sul e em Pernambuco. Nesses três estados o partido também apóia Serra. A cúpula nacional do PMDB não tem força nem unidade para ser centralista.

Se tentar, poderá ficar pior.

A resolução política do PT acentua, no ataque à imprensa, que a campanha eleitoral será marcada por “golpes baixos” e “tentativas de manipulação dos meios de comunicação”.

Mas quem iria manipular os meios de comunicação? Políticos, empresários, ou os próprios jornalistas? Não cabe a diatribe petista, tão velha quanto a própria imprensa que, ao nascer, por volta de 1450, com a prensa mecânica de Gutenberg, foi combatida de forma implacável pela Igreja Católica, um dos seus muitos equívocos ao correr da história. A igreja condenava a imprensa como coisa do diabo que iria enfraquecer a fé e quebrar os dogmas sagrados. Num lugar comum, que convém sempre lembrar, a imprensa é a primeira força da liberdade a ser submetida e censurada pelas ditaduras, como ora acontece no Irã e na Venezuela, para não lembrar a Coréia do Norte e outros países mais, onde a força submete as liberdades da cidadania.

O documento petista, com viés intimidatório à sua própria organização (o diretório maranhense) é basicamente dirigido à sua militância porque à imprensa não atinge.

Passa ao largo. O que a resolução pretende é submeter a militância para que não dê ouvidos às críticas porventura feitas. Uma forma de submissão, conclamando-a “a transformar os esforços da chapa Dilma Rousseff e Michel Temer em uma campanha de massas, e a insistir na comparação entre os governos de Lula e Fernando Henrique Cardoso”.

A proposta da resolução foi apresentada em reunião do Diretório Nacional do partido, semana passada, em São Paulo, e foi divulgada no site do PT. Na verdade, o presidente Lula já havia ditado os parâmetros na convenção petista que oficializou a dupla Dilma-Michel Temer, ao criticar, mais uma vez (ele não cansa), a imprensa e dizer que “Devemos estar preparados para uma campanha de golpes baixos. (...) E que sinaliza qual será o comportamento de uma parte da oposição durante nosso futuro governo”.

Para Lula, a vitória da sua candidata é um fato “quase absoluto”.

Anotou a resolução: “Farão de tudo para levar a eleição ao segundo turno, apoiando outras candidaturas, estimulando a judicialização da política, usando os grandes meios de comunicação como boletins de campanha, atacando os direitos humanos, torcendo para que a nova etapa da crise internacional altere para pior as condições do Brasil, produzindo crise cambial, alta de juros e primarização de nossa pauta de exportações”.

Novamente aí aparece, embutida, a tese da sinistrose, segundo a qual os brasileiros torcem contra o Brasil para ser contra o PT. Um argumento sem lógica, sem princípio, inconsequente e absurdo, mas que muitos acabam acreditando de tão repetido. Em política, é sempre assim: um líder diz e seus seguidores repetem à exaustão até ser tomado como verdade.

Não é só o PT que o faz. Para isso servem também os “slogans.” Serra, por exemplo, para não atacar Lula e dizer que é o melhor candidato, saiu com “O Brasil pode mais”, isto é, fazer mais do que está sendo feito no governo Lula. É um “slogan” semelhante ao de Obama: “Sim, nós podemos”.

Só que Serra também passou a comparar Lula com o rei da França, Luis XIV, um rei absolutista (denominado de o Rei Sol). Mas esse é o tipo de crítica que somente é compreendida por uma parte mínima da população, mais culta, enquanto a linguagem e a comunicação de Lula são populares, atingem instantaneamente a massa.

Observa-se que tudo se trata de uma esgrima política e será sempre assim, até o final o final, mas chegará o momento em que o florete ficará nas mãos de Dilma, e não nas de Lula.

Então emergirá a dúvida, se ela terá competência para usá-lo, ou não. Como Lula, definitivamente, não.

Americano da Costa O jurista e professor baiano Marcus Vinicius Americano da Costa lançou, em São Paulo, o seu novo livro “Manual de Direito Constitucional”, abrangendo doutrina, legislação e jurisprudência, pela Editora Forense. O jurista e professor, especializado em Direito Constitucional, é autor de diversos livros e ensina em diversas escolas de direito e de economia da Bahia.

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