Preço de imóvel é irrealista e insustentável, diz estudo
GUSTAVO PATU, - DE BRASÍLIA - Do UOL
Estudo conduzido por dois pesquisadores do Ipea (Instituto de Pesquisa
Econômica Aplicada) aponta "possibilidade concreta de existência de uma
bolha no mercado de imóveis no Brasil", que pode estourar com a possível
elevação futura dos juros.
Ou, em outras palavras, que a disparada dos preços de casas, terrenos e
apartamentos nos últimos anos está resultando em valores irrealistas,
incompatíveis com os movimentos de oferta e procura do mercado -e,
portanto, insustentáveis.
Assinado pelos economistas Mário Jorge Mendonça e Adolfo Sachsida, o
trabalho alimenta com novos argumentos a controvérsia instalada entre
estudiosos, compradores e vendedores.
Os autores calculam que os preços tiveram alta de 165% na cidade do Rio
de Janeiro e de 132% em São Paulo entre janeiro de 2008 e fevereiro
deste ano, contra uma inflação de 25% no período.
Com intervalos de tempo menores, em razão da indisponibilidade de dados
mais antigos, também se constataram aumentos bem superiores à inflação
em capitais como Recife, Belo Horizonte, Brasília e Fortaleza.
IMPULSO DO GOVERNO
Tradicionalmente, bolhas de preços são infladas pelo crescimento acelerado da oferta de crédito.
Esse crescimento aconteceu no setor habitacional brasileiro -com o
impulso, enfatiza o estudo, de programas, incentivos e obras do governo
federal.
"A insistência do governo em aquecer ainda mais um mercado imobiliário
já aquecido só tende a piorar o resultado final", diz o texto.
Entre os exemplos citados estão, além dos juros favorecidos para o setor
imobiliário, o programa Minha Casa, Minha Vida e os empreendimentos
vinculados à Copa do Mundo de 2014 e aos Jogos Olímpicos de 2016.
Vinculado à Presidência da República, o Ipea não endossa essas
conclusões. Em seu boletim "Conjuntura em Foco", o órgão argumenta que o
volume de crédito no país ainda está muito longe dos 65% do Produto
Interno Bruto contabilizados nos EUA.
Mas o próprio boletim mostra a rapidez da expansão dos financiamentos
habitacionais brasileiros, que saltaram de 1,5%, em 2007, para mais de
5,5% do PIB neste ano.
BANCOS PÚBLICOS
Mendonça e Sachsida afirmam que, a partir do agravamento da crise
internacional, no final de 2008, o crédito imobiliário tem crescido em
ritmo superior ao do destinado a outros setores, especialmente nos
bancos públicos.
Antes, a ampliação do crédito era puxada por bancos privados e
privilegiava os setores industrial, rural, comercial e empréstimos
diretos a pessoas físicas.
Segundo o estudo, a escalada dos preços dos imóveis tende a ser
interrompida ou revertida com a alta dos juros, o que é esperado com a
retomada do crescimento econômico e, mais ainda, com uma alta futura das
taxas internacionais.
O texto diz que os efeitos de uma eventual crise no mercado imobiliário
brasileiro não serão catastróficos como os do estouro da bolha
americana, ponto de partida da crise global. "Contudo, não serão
desprezíveis."
ASCENÇÃO SOCIAL
Bolhas especulativas acontecem, pela definição mais usual, quando os
preços sobem simplesmente porque os investidores e compradores acreditam
que os preços subirão ainda mais no futuro.
Exemplos do gênero são mais comuns nos mercados de ações e imóveis, mas o
primeiro caso documentado, no século 17, envolveu a mania por tulipas
na Holanda.
Os preços subiram rapidamente e pessoas de todas as classes vendiam
propriedades para investir nas flores. Depois de alguns anos, a bolha
estourou, os preços caíram subitamente e inúmeros negociantes foram à
falência.
Não é simples determinar se uma disparada de preços é uma bolha ou se
está amparada em transformações da economia ou da sociedade.
No caso dos imóveis brasileiros, a alta pode ser resultado da ampliação
da classe média nos últimos anos, possibilitada pela melhora do mercado
de trabalho e pela ampliação dos programas de transferência de renda.
É o que defende um estudo produzido em 2010 pela MB Associados a pedido
da associação dos bancos financiadores de imóveis. Por esse raciocínio, a
ascensão social impulsionou a demanda em ritmo superior ao da oferta.
O texto não descartava, porém, a possibilidade de que a alta de preços
se transformasse em bolha no futuro. E acrescentava que bolhas só podem
ser determinadas com certeza quando estouram.
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Editoria de Arte/Folhapress |
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