sexta-feira, 19 de agosto de 2022

Bit acelerado, o hit do momento

Lembram, o nome do conjunto era Metrô, e dizia coisas do tipo: “Minha mãe me falou que eu preciso casar, pois eu já fiquei mocinha...”, e vinha o refrão que dizia: “coração ligado, beat acelerado...”, Brasil, 1984. Mal sabia o Metrô, e a encantadora Virginie Boutaud, franco-brasileira, que de verdade nos anos 1980 estavam pautando um dos comportamentos próximos do recorrente quase quatro décadas depois. O de acelerar, tudo. Uma espécie de pináculo da superficialidade. Precisamos saber de tudo ainda que não tenhamos conhecimento ou dominemos o que quer que seja. A versão 2021 da tal da Leitura Dinâmica revela-se mais esfuziante do que nunca. Começou durante a pandemia, com a garotada assistindo aula de casa e acionando os mecanismos de aceleração de vídeos. Aulas normais e gostosas, velocidade normal. Aulas chatas, velocidade aumentada em 50%. Assim, aula de 1 hora em 40 minutos. E aulas insuportáveis, aceleração dupla, aulas de uma hora em 20 minutos. E aí entra o tal do “Já Quê”. “Já Quê” faziam isso com as aulas, começaram a fazer nas séries de streaming, reduzindo as séries de 10 capítulos e 5 horas, para os mesmos 10 capítulos e 2 horas e meia. Bit Acelerado! Hoje, em pleno inverno de 2022, e que mais parece verão, pessoas na Netflix e demais redes de streaming, assim como no WhatsApp ouvindo tudo corridinho... E aí o Estadão decidiu testar. Sim, é possível, concluiu o Estadão. Guilherme Guerra, repórter da coluna LINK, assistiu um episódio de uma série em velocidade dobrada. Segundo Guilherme: “O episódio fica perfeitamente claro de entender em alta velocidade. Dá para ler as legendas, entender diálogos, absorver imagens...”. Mas, Guilherme adverte, conteúdos mais complexos tornam-se difíceis de entender em alta velocidade... Em síntese, amigos, cada um tem o direito, no particular, de enfiar os dois pés no acelerador pela vida. Ouvindo em meia hora conteúdos de uma hora, dançando Ave Maria em ritmo de frevo ou bate-estaca de danceteria, e assistir Morte em Veneza, de Luchino Visconti, que tem mais de duas horas, em menos de 30 minutos. Porém, melhor e mais verdadeiro é assistir às antigas comédias do tempo do cinema mudo... Onde tudo era corridinho de verdade. Em tempo. Tudo o que o mundo precisa e está correndo atrás é de maior velocidade de transmissão e maior capacidade de armazenamento. Quando as cortinas se abrem, as luzes se acendem, e começa o espetáculo, o ritmo da vida e dos conteúdos deveria ser respeitado. Apenas isso. E essa é a grande promessa do 5G, que bate as nossas portas às vésperas da primavera. Mas, para apressadinhos, superficiais e inconsequentes, consagram-se as rapidinhas de todos os gêneros. Francisco Alberto Madia de Souza é consultor de marketing famadia@madiamm.com.br do Propaganda e marketing Comentário do editor: É o cúmulo da geração fast fodd, como se ao invés de degustar um belo prato, o batesse em um liquidificador e o sorvesse com pressa, sem sentir a emoção da degustação passo-a-passo. Parece uma corrida para completar metas, sem realmente experimentá-las ou vivenci-alas em sua plenitude.

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