segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

Ano Novo, Vida Velha

Resoluções de Ano Novo geralmente duram só até o Carnaval – e isso quando custam muito a ser esquecidas.

Esse tipo de anestésico para as consciências culpadas toma uma infinidade de formas, e todas servem para tentar consolar as fraquezas reconhecidas com a ênfase no compromisso de superá-las.

Mas é só da boca para fora. Ou, como se diz em inglês, é só lip service.

E isso é tudo o que Brasil oficial sabe fazer com a educação no país: esbravejar propósitos, proclamar apreço, assumir compromissos e fazer declarações inflamadas.

Comprometer-se em fazer o impossível, colocar a culpa nos outros, manipular fatos e números, abafar realidades em contrário.

In imo pectore, nada do que dizem é para valer. Ou têm outros propósitos com o que fazem, e visam a outros fins, ou estão enganando a nós e também a si mesmos.

Ensino não acontece em gabinete. Ensino se faz em sala de aula. E quem faz a sala de aula é o professor.

Quem ensina não são sabichões entrincheirados em repartições, a dispor sobre o que se deve ou não se deve fazer lá longe.

Quem ensina é o professor em sala de aula: na cidade, na roça, na selva, na favela.

E, como se está vendo, tudo isso que nos cerca em matéria de educação e ensino, toda a prosopopéia oficial, cai por terra com uma constatação simples: o país não tem professores.

Falta o professor. Quer dizer: não tem apenas o principal. O básico. O essencial.

Novidade? Não. Há tempos se sabe que o magistério não atrai mais os jovens talentos. E não é só por causa do salário.

A desatenção quanto ao professor é total. Sua formação, por exemplo, continua a mesma de 50 anos atrás.
Aprende a dar aula com giz e quadro negro. Já em sala de aula, ganha um tablet para o governo mostrar como está antenado com a modernidade tecnológica.

E tudo começa pelo fim: a formação, a profissão e o trabalho não importam. Os resultados das avaliações são péssimos, deprimem o professor e servem para desconsiderá-lo perante o país.

A conversa se resume a salários e verbas.

É isso também. Mas antes é questão de valor. A pergunta não é só quanto ganha o professor. É de reconhecer de início o quanto vale o que se espera que ele faça.

E pelos sinais de consideração e apreço que o Brasil oficial dispensa ao magistério, no fundo o que o professor ganha é mais ou menos aquilo que o Brasil oficial acha que vale o que ele faz.

Muito pouco.

E respeito reconhecido faz falta. Não só pelo profissional em si, mas no caso do professor, respeito público é pré-requisito para o êxito de sua missão.

Educar uma nação precisa mais do que verbas, salários e blábláblá.

Precisa de estadistas.


Edgar Flexa Ribeiro é educador, radialista e presidente da Associação Brasileira de Educação

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