terça-feira, 18 de agosto de 2009

Mais uma de Sebastião Nery

MARIA MENTIRA

RIO – Em Herval do Sul, lá na fronteira com o Uruguai, o Passo do Centurião é um velho caminho de exílios e contrabandos. A cavalo atravessa-se o rio Jaguarão e logo se está na cidade de Melo, no Uruguai.

Há 50 anos um velho gaúcho passava contrabando pelo Centurião. Getulista fervoroso, nunca foi incomodado. Em 64, as coisas mudaram. O velho também. Em vez de mercadorias, começou a passar gente. De cá para lá e de lá para cá, toda a madrugada, o velho ajudava os amigos de Jango e Brizola que iam a Montevidéu ou de lá voltavam.

Até que acabou preso e levado para Porto Alegre, enquadrado em um IPM (Inquerrito Policial Militar). O capitão estava furioso:

- Quem é que passava por lá?

- Passava tanta gente que não sei o nome de ninguém. Posso lembrar da fisionomia. De nome, não.

O VELHO

O sargento que datilografava o depoimento entrou na conversa:

- Capitão,ele está mentindo.Olhe e o senhor vê que ele está mentindo

O velho deu o troco:

- Não estou mentindo não. Por exemplo, não sei o seu nome. No entanto, tenho certeza de que o senhor passou por lá.

- Eu? Nunca passei.

- Passou, sim. Lembro bem a fisionomia.

- O senhor está mentindo.

- Então foi seu irmão.

Mandaram o velho de volta para o Passo do Centurião.

DILMA

Numa entrevista valente, algum tempo atrás, a ministra Dilma Roussef disse que o preso, sobretudo quando torturado, tem o dever de mentir, para enganar o inquisidor ou torturador. Perfeito. Quem já se viu nessa situação sabe que a melhor maneira de resistir é não se entregar.

Mas isso nada tem a ver com a mentira no poder, com o uso da mentira como instrumento político ou de governo. A ministra Dilma chegou ao governo Lula com a imagem de mulher seria, honrada, provada na resistência à ditadura e competente para enfrentar e resolver problemas.

De repente, ela surpreende. Cada vez que surge uma crise, repete servilmente a lição de Lula : - Não vi, não sei, não é comigo.

VARIG

Da Casa Civil da presidência da Republica saiu um dossiê sobre gastos palacianos no governo Fernando Henrique, dele e da primeira dama. Dilma disse que não sabe de nada e muito menos quem preparou aquilo. E logo a Policia Federal apurou que tudo começou no seu gabinete.

Armou-se nas ante-salas do palacio do Planalto um poderoso lobby para entregar a Varig a um grupo empresarial norte-americano:

-“O presidente da ANAC (Agencia Nacional de Aviação Civil), Milton Zuanazzi, vivia no Planalto e não dava um passo sem consultar a ministra. O compadre de Lula (Roberto Teixeira, advogado do grupo que queria herdar a Varig), metido com a aviação, também visitava bastante a Casa Civil. Mas Dilma jurou que não tinha nada a ver com a salvação da “insalvavel” Varig e não sabia de nada”. (Eliane Cantanhede, Folha).

SENADO

- “Em junho de 2008, no auge da polemica sobre a venda da Varig, somente apos pressão da imprensa Dilma admitiu que o advogado Roberto Teixeira havia sido recebido pelo menos duas vezes na Casa Civil em encontros que não constavam da agenda publica”. (Folha).

É um fato atrás do outro, cada qual mais suspeito e inexplicável. Como o Dossiê dos Aloprados. E Dilma jurando que de nada sabia, como Waldomiro Diniz e José Dirceu também “não sabiam do Mensalão”.

Agora, chegamos ao cumulo do “não vi, não sei, não me contaram” da ministra Dilma. Hoje, a ex-secretaria da Receita Federal vai à Comissão de Justiça do Senado ser ouvida sobre sua denuncia de que a ministra Dilma a chamou a seu gabinete e pediu para ela “agilizar” (quer dizer, engavetar) o inquerito-processo contra Fernando, filho do senador Sarney.

LINA VIEIRA

Os detalhes são inacreditaveis. A vice.chefe da Casa Civil, Erenice Guerra, foi ao gabinete da secretaria da Receita, Lina Vieira, para convoca-la à Casa Civil para uma conversa “reservada” com Dilma. A chefe de gabinete da secretaria da Receita, Iraneth Dias Weller,estava lá e a recebeu:

- “Ela entrou pela porta do corredor, não passou pelas secretarias. Não foi uma coisa que constava da Agenda”. Lina Vieira foi à Casa Civil e recebeu o pedido de Dilma. Agora, Erenice diz que não foi lá chama-la e Dilma jura que não falou com ela.

É uma espantosa mentiralhada. O que custava Dilma honrar o que fez?

PF

Naqueles dias, o PMDB sabia e toda a imprensa publicou que Sarney só seria candidato porque achava que, na presidência do Senado, a Policia Federal “aliviaria” a pressão em cima dos negócios dele e do filho Fernando. Não adiantou. A Policia Federal cumpriu o dever e foi até o fim.

Começou mais um inferno astral do coronel do Maranhão, o “Fora Sarney”.

Agora, Dilma presta-se ao ridiculo papel de tentar negar o que fez, de querer dizer que não fez o que sabe muito bem que fez. Quem tem a bela biografia que Dilma tem não tem o direito de virar uma Maria Mentira.

www.sebastiaonery.com.br

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