quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Enviado por Ricardo Noblat

Avanço de sinal (Editorial de O Globo)

Num governo em que o presidente não desceu do palanque da reeleição, aproveitou o clima de campanha e logo tratou de trabalhar na indicação de uma candidata a suceder-lhe, é uma decorrência natural que ministros com aspirações nas urnas de 2010 também atropelem o calendário das eleições.

É atitude coerente com o estilo do chefe, mas reprovável sob vários aspectos.O mais evidente é o descumprimento de prazos e datas estabelecidos pela Justiça eleitoral, algo sempre passível de contestação formal.

Assim como Fernando Henrique, a partir de determinado momento do primeiro governo, passou a acordar e dormir com a ideia fixa da aprovação do segundo mandato consecutivo, Lula não toma qualquer decisão de alguma importância sem embalá-la num clima de campanha.

Visitas a canteiros do PAC foram convertidas em comícios, e a confirmação do petróleo no pré-sal inspirou a modelagem de um plano de reestatização do setor, com o erguimento de bandeiras nacionalistas e brados contra os “entreguistas”, sob medida para uso em 2010.

O descompromisso com calendários legais e a despreocupação com o uso do dinheiro do contribuinte em projetos políticos pessoais e partidários passam a ser práticas usuais também de ministros, à medida que avançam as negociações para a montagem de alianças e chapas regionais, como revelado em reportagem do GLOBO.

O petista Tarso Genro, da Justiça, um dos ministros pré-candidatos, sintomaticamente cumpre agendas, sempre às segundas e sextas, em Porto Alegre, sua base eleitoral.

A fórmula de se manter ministro, usar os recursos materiais e financeiros da pasta, sustentados pelo contribuinte, para fazer política de cunho pessoal fora da época legal, é disseminada: Geddel Vieira, ministro da Integração Nacional em nome do PMDB, é visto com frequência na Bahia, onde executa a missão de pavimentar a candidatura a governador do estado.

O mesmo sucede com o nome do PT para suceder a Aécio Neves em Minas, Patrus Ananias, cuja assessoria se esmera em fazer coincidir assuntos da pasta do Ministério do Desenvolvimento Social com os interesses eleitorais do ministro.

Também não foge à regra Paulo Bernardo, do Planejamento, muito presente em Curitiba, onde mora com a mulher, Gleisi, aspirante a candidata ao Senado. E também Carlos Minc, ministro do Meio Ambiente, peça nas articulações fluminenses.

Do ponto de vista formal, argumenta-se que todos cumprem lei que faculta a viagem de ministros para casa no fim de semana, e a volta ao trabalho, transportados em asas oficiais. Se assim for, há, no mínimo, uma grave infração ética.

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