terça-feira, 15 de setembro de 2009

OS “SEGREDOS” DE LULA

RIO – Tancredo Neves, no fim de 1984, tinha um segredo sagrado: o vice-presidente. Depois de um ano costurando, com todo o seu talento, os receios militares e as alianças políticas, decidiu: o vice-presidente seria Antonio Ermírio de Moraes.

Por três razões. Era um nordestino empresário em São Paulo. Tinha dinheiro para a campanha. E o pai tinha sido senador do PTB, amigo de Getúlio, de João Goulart e dele.

Mas a Frente Liberal, saída do PDS, queria um pefelista do Nordeste. Quando Franco Montoro, governador de São Paulo, fez a reunião de governadores no palácio dos Bandeirantes para pedirem a Tancredo que deixasse o governo de Minas e saísse candidato a presidente, Tancredo lhe prometeu que o primeiro a saber o vice seria ele.

TANCREDO

Uma noite, em São Paulo, Tancredo disse a Montoro que ia convidar Antonio Ermírio. Montoro achou ótimo. E Tancredo pediu segredo absoluto, inclusive para Antonio Ermírio, porque a Frente Liberal estava reivindicando e a escolha tinha que ser anunciada no momento certo.

Uma tarde, em São Paulo, Montoro chamou ao palácio o jornalista Mauro Santayana, assessor de confiança de Tancredo. Na entrada, Mauro passou por Antonio Ermírio, que saía.

Montoro, que não confiava nos telefones do governo Figueiredo, como nenhum político sensato confia nos telefones de governo nenhum, pediu a Mauro que fosse a Minas dar um recado a Tancredo.

MONTORO

Depois de conversarem sobre as chamadas amenidades,Montoro falou:

- Diga ao Tancredo que o Antonio Ermírio aceitou.

Tancredo também não acreditava em telefone nem nas paredes do seu Palácio da Liberdade, em Belo Horizonte. Quando Mauro chegou ao Palácio, Tancredo não quis conversa:

- Vamos para as Goiabeiras.

“Goiabeiras” é como Tancredo chamava o Palácio das Mangabeiras, residência do governador de Minas, no alto da serra. Entrou lá, em cujas salas e varandas também não acreditava, foi para a beira da piscina, serviu um uísque para os dois. Mauro sentou-se ao lado, esperou a conversa.

- Mauro, qual é o recado do Montoro?

- Mandou dizer que o Antonio Ermírio aceitou.

ERMIRIO Tancredo pôs as mãos na cabeça e esfregou angustiadamente:

- Queimaram nosso candidato.

Mauro tentou aliviar a decepção de Tancredo:

- Mas isso só vai ficar entre Montoro e o Antonio Ermírio.

- Você não conhece a alma humana, Mauro? Hoje Ermírio conta à mulher e pede segredo absoluto. Amanhã, a mulher do Ermírio conta à melhor amiga e pede segredo absoluto. Depois de amanhã, já vamos ler numa coluna de jornal. A Frente Liberal exige o Sarney. E o vice vai ser o Sarney, que eles indicaram, e não o Antonio Ermírio, que eu queria.

E foi exatamente o que aconteceu. Um jornalista furou a noticia. Antonio Ermirio não guardou o segredo. Era o José Alencar de Tancredo que morreu pela boca. Sarney foi presidente por um segredo não guardado.

LULA

Lula não é Tancredo, não é Montoro, não é Antonio Ermirio, não é Sarney. Mas tem o complexo do “segredo”. Ele acha que antes dele no Brasil não houve nada e por isso vai desovando um a um seus “segredos” para o pais, numa paranóica megalomania que nem Freud explica,

Um dia anunciou o Fome Zero como se fosse criação dele e nem teve a delicadeza de dizer que o Fundo Contra a Pobreza já estava aprovado na Constituição, proposto por seu novo aliado Antonio Carlos Magalhães

Outro dia empacotou o Bolsa Família sem também ter a gentileza de confessar que seu ministro da Educação Cristovam Buarque já havia criado antes, ali em Brasília, o Bolsa Escola, e que Fernando Henrique também havia implantado outras “bolsas”, todas incorporados ao Bolsa Família.

JUSCELINO

Achava pouco. Precisava de um “segredão”. E jogou no colo da sua candidata Dilma Roussef o novo filho eleitoral, o PAC, que não passa de uma fraude orçamentária : um balaio de verbas já aprovadas, com nomes novos e destinos rebalanceados. E continuam mais verbas do que obras.

Agora, foi buscar em 60 anos de lutas nacionais seu ultimo “segredo” : a Petrobrás e o Pre-Sal, como se fossem descobertas e criações dele. Já que ele não lê, manda o Franklin Matins ler a pagina 4134 do “DHBB, Dicionário Historico-Biografico Brasileiro”, da Fundação Getulio Vargas:

- “Deixando o Executivo do Amapá, em 1° de fevereiro de 1956, um dia depois da posse de Juscelino na presidência da Republica o coronel do Exercito Janary Nunes assumiu a presidencia da Petrobrás (criada em 1953). Juscelino dedicou especial atenção ao petróleo, tendo por meta elevar a produção de 6.800 barris para 100 mil, até o fim do seu governo”.

PETROBRÁS

Cumpriu e a Petrobrás disparou. Depois de Janary, veio o coronel Sardenberg em 1959. De 62 a 64, Francisco Mangabeira. Com dirigentes, tecnologia, técnicos e recursos nacionais, a Petrobrás chegou ao Pré-Sal. Já que não respeita o pais, Lula precisa ao menos respeitar a historia.

www.sebastiaonery.com.br

Nenhum comentário: