sábado, 23 de maio de 2009

ARTIGO

Fator Dilma embola política

A notícia de recaída na saúde da ministra Dilma Roussef, debilitada pelo tratamento de quimioterapia, embolou não apenas o panorama sucessório, mas o próprio processo político. A política se nutre, desde sempre, de um paradoxo: embora imprevisível, deve oferecer a seus agentes elementos de previsibilidade.

A candidatura Dilma é um dado concreto para projeções e especulações. Sem ela – e poucos crêem que reocupe o espaço -, não há referências para o jogo especulativo, que movimenta alianças e alimenta ambições. Há, hoje, mais perguntas que respostas no ar.

A primeira é a mais óbvia: quem a sucederá, se o tratamento a inviabilizar para a campanha? Lula terá algum nome na manga, que possa absorver o seu potencial de popularidade? Falou-se que, entre outros, estariam o do ministro do Desenvolvimento Social, Patrus Ananias, e o do presidente da Petrobras, Sérgio Gabrielli, cujas chances estão hoje ameaçadas (senão inviabilizadas) pela CPI que o Senado acaba de aprovar.

Nesse caso, a CPI da Petrobrás imporá ainda esse dano colateral ao presidente da empresa, que sofrerá o desgaste de ver sua administração exposta. Por mais que o governo cuide de blindar a CPI, ela é instrumento do imponderável. Costuma-se compará-la às guerras: sabe-se como começam, mas não como terminam.

O Planalto está diretamente envolvido na escalação de sua tropa de choque. O presidente Lula disse, numa de suas manifestações de desagrado, que os que querem a CPI são “os mesmos que estavam com Collor na época do impeachment”. Só que o hoje senador Fernando Collor (PTB-AL) figura entre os aliados de Lula para defender o governo na CPI da Petrobras. A seu lado, estará aquele que foi o líder do governo Collor na Câmara, por mais da metade de seu mandato, o hoje senador Renan Calheiros.

Lula sabe que a CPI, por maior controle que sobre ela se tenha – e o governo já avisou que ficará com presidência e relatoria -, abre espaço para dossiês, denúncias cheias e vazias. A imprensa repercute e a CPI acaba sendo pressionada de fora para dentro a apurar o que está sendo denunciado. Há ainda outro fato novo, ausente, por exemplo, ao tempo da CPI que levou Collor ao impeachment: a forte atuação da internet, com seus blogs, sites de relacionamento e noticiário em tempo real. A informação hoje é incontrolável.

Diante de tudo isso, e sem um nome para ocupar a possível vaga de Dilma, PT e lulistas fazem ressurgir a tese do terceiro mandato, que ganha novo fôlego. O deputado Jackson Barreto (PMDB-SE) apresentará ainda este mês emenda propondo referendo para o terceiro mandato de Lula.

O deputado Fernando Marroni (PT-RS) já havia manifestado semana passada sua intenção de submeter a proposta a um plebiscito. E tramita há mais de um ano na Câmara proposta de emenda constitucional do deputado Devanir Ribeiro (PT-SP) de nova reeleição. O fator Dilma realimenta a tese do terceiro mandato, mas as barreiras a inviabilizá-la permanecem sólidas.

Política, já dizia o falecido Magalhães Pinto, é como nuvem: cada hora está de um jeito. No momento, as nuvens são indecifráveis, embora o céu de Brasília esteja carregado delas.

 Ruy Fabiano é jornalista

do Blog do Noblat

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