terça-feira, 28 de julho de 2009

EDITORIAL DE O GLOBO

Lula X PT

Do alto da sua popularidade, o presidente Lula poderia esperar menos problemas na montagem de alianças regionais para ajudar a viabilizar a candidatura de Dilma Rousseff. Seria uma previsão lógica que o PT, partido do presidente, se comportasse com docilidade diante do plano do líder de, nas chapas estaduais, fazer o possível para dar prioridade ao PMDB, partido que tem dado sustentação ao governo, e é dono de poderosa máquina eleitoral.

Mas não é o que acontece. Se tucanos paulistas e mineiros se bicam por causa da disputa entre os governadores Serra e Aécio para saber quem enfrentará o candidato de Lula ao Palácio, as refregas petistas, cada vez mais visíveis, não ficam atrás. Mas elas são de outra ordem, não envolvem choques entre pré-candidatos, pois não há quem possa, na legenda, fazer frente a um nome avalizado por Lula. Só mesmo ele para impor ao partido uma pessoa sem qualquer experiência eleitoral e arrebanhada em outra legenda, o PDT. Mas este dedazo de Lula, uma indicação no melhor estilo do velho PRI mexicano, para ter alguma chance nas urnas requer o engavetamento de projetos eleitorais de petistas em vários estados.

Aqui, começa o choque entre o lulismo e o petismo, fricção a ganhar grandes proporções à medida que 2010 se aproxima. A nota emitida pelo senador Aloizio Mercadante, na sexta, em que o líder da bancada petista no Senado apoia o licenciamento de Sarney da presidência da Casa, pode ser lida, também, como sintoma do mal-estar existente em São Paulo com a imposição lulista do projeto eleitoral de Dilma.

Não será mesmo fácil fazer o PT aceitar Ciro Gomes (PSB) para disputar o Palácio dos Bandeirantes, maneira encontrada pelo lulismo de retirá-lo da corrida ao Planalto, na qual pode roubar votos nordestinos de Dilma. No mesmo dia em que Mercadante emitia a nota - cuja importância o Planalto tenta reduzir, no mínimo num descredenciamento do senador -, o ex-ministro e deputado cassado José Dirceu, soldado a serviço dos planos de Lula, postava no blog de Ricardo Noblat, no site do GLOBO, artigo de crítica a iniciativas do PT em vários estados, na costura de alianças que desconsideram a estratégia lulista.

Dirceu se preocupa com o risco de o PT, ao se guiar por cenários regionais, comprometer a candidata do Planalto nos grandes colégios eleitorais do país - São Paulo, Minas e Rio -, onde considera que a eleição presidencial será decidida. Os próximos meses mostrarão se a criatura (PT) obedecerá a seu criador (Lula). Ou se tendem a tomar caminhos distintos. Lula demonstra ter autonomia, pois conseguiu pairar sobre os partidos. Quanto ao PT, não se sabe.

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