(Sebastião Nery)
SALVADOR - Não tinha carro. Aliás, não tinha nada. Nem casa tinha:
- “Sou contra a propriedade. Ela escraviza”.
No armário, três ternos. “E bastam. Só visto um de cada vez. Vou morrer imune à tentação da propriedade.”
E morreu. Passou a vida apenas com seu poderoso talento político.
ETELVINO
Toda tarde, ao fim da sessão da Câmara, no palácio Tiradentes, Otavio Mangabeira pegava uma carona e ia para o hotel Glória. Naquele dia, já haviam ido embora todos os deputados. Saiu andando a pé, com os jornalistas Villas-Boas Correia e Heráclio Sales, em direção ao Largo da Carioca, para pegar o bonde. No caminho, o assunto era a candidatura de Etelvino Lins, lançada pela UDN, para tentar enfrentar Juscelino.
Villas-Boas achou que aquela caminhada longa, até o bonde, era demais para o velho e gordo Mangabeira. Começou a procurar um táxi. Mangabeira sorriu sarcástico:
- Meu filho, é mais fácil a gente encontrar aqui um eleitor do Etelvino que um táxi.
No dia seguinte, a piada foi publicada. Etelvino renunciou, a UDN lançou Juarez Távora. Que perdeu.
PAULO SEGUNDO
Com meio século de ininterrupta vida publica (nasceu em 1886 e morreu em 1960, aos 74 anos), vereador de Salvador aos 22 anos, deputado federal aos 26, Mangabeira é um patrimonio cultural e politico da Bahia.
Em novembro de 2010, a Bahia relembrará o cinqüentenário de sua morte. O engenheiro, pesquisador e historiador Paulo Segundo da Costa, com décadas de dedicação à vida publica baiana, leu toda a bibliografia sobre Otavio Mangabeira, foi buscar no “Centro de Memória da Bahia – Fundação Pedro Calmon” uma vasta documentação inédita e publicou “Octavio Mangabeira – Democrata Irredutivel”, mais do que uma biografia, um testemunho e um testamento, com textos jamais publicados.
EISENHOWER
Entrou na lenda política nacional que Mangabeira teria beijado a mão do general Eisenhower, quando ele foi à Camara, em 1946, logo depois do fim da Segunda Guerra Mundial. A verdade é bem outra. Escolhido para saudar Eisenhower, Mangabeira terminou assim seu discurso :
- “Quanto à saudação, protocolar, com que me honrastes, senhor presidente e senhores representantes, com a incumbencia de dirigir ao visitante, em nome de meu país, aqui presente pela representação nacional, direi, ao encerrar este discurso, que, se assim me fosse lícito, preferia fazê-lo por meio de uma simples reverência, mais eloquente que qualquer palavra: inclinando-me, respeitoso, diante do general Comandante-em-Chefe dos Exércitos que esmagaram a tirania e beijando, em silêncio, a mão que conduziu à vitória as forças da Liberdade”.
Bem diferente do que tanto tempo se disse.
ABC
O autor catou preciosidades de definição e humor, bem atuais:
1. - “Sou apenas um homem que não corteja a riqueza, não lisonja a força, não adula o poder”.
2. - “Na Bahia, o atraso é de tal ordem que quando o mundo se Acabar os baianos só saberão cinco dias depois”.
3. - “Pensem em um absurdo. Na Bahia já aconteceu”.
4. - “O baiano é capaz de gastar 100 para o outro não ganhar 10”.
CORRUPÇÃO
5. - “Amaldiçoada a corrupção, desgraçadamente a grande lepra da atualidade da República”.
6. - “Malditos os que corromperem, como os que se deixarem corromper!”
7. - “Amaldiçoada a improbidade; maldito seja o negocismo, o furto, em uma palavra, a roubalheira, que tanto vem avassalando o país!”
8. - “Malditos os que transigem, mercadejando, de qualquer maneira, com cargos públicos ou com os mandatos políticos”.
TIRANIA
9. - “Amaldiçoada a tirania, difícil dizer qual delas a mais grave, se a tirania política, se a tirania econômica!”
10 - “Malditos os que abusarem dos direitos e liberdades, seja em particular, dos cidadãos, seja do povo em geral; e o maior dos direitos do povo é o direito que tem de não morrer de fome, sobretudo quando sabe, e todos os dias lhe dizem, por meio de inquéritos, que seu dinheiro é roubado, que muita gente enriquece à custa do seu dinheiro!”
11. - “Amaldiçoada a iniqüidade, inclusive a pior de todas, que é a iniqüidade social!”
NAZISMO
12. - “Quando Deus criou os homens à sua semelhança, não foi para que uns pudessem tripudiar sobre os outros, ou para que coubesse a um o monopólio da prosperidade e a outros o monopólio da miséria!”
13. - “A 8 de maio de 1945, o nazismo vencido assinava a rendição incondicional. A cena passou-se em uma escola francesa de Reims. Essa casa era uma escola. Dessa escola saíram para os séculos grandes lições. Uma foi a que nos ensina que todo orgulho se abate”.
www.sebastiaonery.com.br
Um blog leve, solto, bem humorado, mas às vezes contundente, com informações sérias, informações nem tão sérias assim e tudo mais que der na cabeça desse blogueiro, postar.
quinta-feira, 21 de janeiro de 2010
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