segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Frases de Lula levam ‘desânimo’ ao PMDB pró-Dilma
Presidente disse não ter ‘ilusão’ sobre os acertos estaduais
Declarou ser ‘difícil’ fazer comício em palanques diferentes
Cúpula pemedebê recebeu os comentários com o ‘pé atrás’
Em reunião com PT, aliado cobrará ‘solidariedade regional’


As cúpulas do PT e do PMDB se reúnem nesta quarta (25), em Brasília. Vão à mesa as pendências que condicionam o fechamento da aliança para 2010.

São querelas regionais, que dificultam a reprodução nos Estados da parceria nacional em torno da presidenciável oficial Dilma Rousseff.

Será o segundo encontro do gênero. No primeiro, realizado há duas semanas, os desacertos foram tratados a golpes de barriga.

Os negociadores do PT alegaram que era preciso aguardar o resultado da eleição interna que renovaria as direções do partido –a nacional e as estaduais.

A eleição petista ocorreu neste domingo (22). Espera-se que os resultados, ainda não proclamados, venham à luz antes da reunião de quarta.

No plano nacional, a virtual eleição de José Eduardo Dutra para a presidência do PT serve aos planos de Dilma. Dutra defende a aliança com o PMDB.

É nos Estados que se concentram os problemas. A depender do pronunciamento das urnas petistas, a composição com o PMDB pode evoluir para a encrenca.

Ao votar, Lula fez declarações que impregnaram de desânimo o naco do PMDB que negocia o apoio a Dilma.

O blog conversou com três grão-pemedebês com assento no comitê negociador. Queixaram-se do comportamento do presidente. O que disse Lula? Em essência, duas coisas:

1. "Eu não tenho mais ilusão quando se trata de disputas locais. Por mais que a gente oriente as pessoas de que o que deve prevalecer é o projeto nacional, normalmente o que tem acontecido é que cada um olha para o seu umbigo e prevalecem as questões dos Estados".

2. “É sempre difícil quando uma candidata à Presidência ou um candidato vai num Estado fazer comício em dois palanques diferentes. É sempre muito complicado, parece fácil colocar no papel, muito simples teorizar, mas, na prática, você não tem como fazer dois discursos pedindo votos para dois candidatos diferentes”.

Ouça-se um dos pemedebês que conversaram com o repórter: “O presidente falou como se lavasse as mãos numa hora em que deveria arregaçar as mangas”.

Lembrou de uma reunião ocorrida no escritório da Presidência da República, em São Paulo, há coisa de quatro meses.

Nesse encontro, Lula dissera a líderes do PMDB e do PT que cuidaria pessoalmente de aparar as quinas que se insinuam em alguns Estados.

Mencionara o Rio. Ali, empurraria o PT para dentro da coligação reeleitoral de Sérgio Cabral (PMDB). Conteria os arroubos do petista Lindberg Farias, fazendo-o desistir da candidatura ao governo e acomodando-o na disputa para o Senado.

Citara o caso de Minas Gerais. Acenara com o prestígio ao ministro Hélio Costa, candidato do PMDB à sucessão de Aécio Neves. Pedira paciência.

Alegara que era preciso aguardar novembro, para saber quem prevaleceria no diretório do PT mineiro –se o grupo de Fernando Pimentel ou o de Patrus Ananias, ambos candidatos ao governo estadual.

Lula falara, de resto, da encrenca de Mato Grosso do Sul. Assegurara que Zeca do PT não seria pedra no sapato de André Puccinelli, candidato do PMDB à reeleição.

“O tempo passou e o presidente não interveio em nenhuma das disputas”, queixou-se o segundo pemedebê ouvido pelo repórter. “O Lindberg continua candidato, o Fernando Pimentel desconhece o Hélio Costa e o Zeca do PT empurra o Puccinelli para o palanque do Zé Serra...”

“...E, numa hora dessas, o presidente Lula vem dizer que ‘não tem mais ilusão’! Ora, não se trata de ter ou não ter ilusão. Trata-se de fazer política. Não se pode perder de vista que o nosso pré-acordo depende de aprovação numa convenção composta por delegados que vem dos Estados”.

Hoje, o PMDB pró-Dilma julga ter maioria na convenção, que ocorrerá em junho. Mas receia que, perdendo dois Estados –MS e MG, por exemplo—a maioria pode ir para as cucuias.

Para complicar, representantes de 15 diretórios do PMDB firmaram, no sábado (21), uma moção em defesa da candidatura própria. Mais: o governador Roberto Requião foi lançado como candidato do PMDB à Presidência.

O terceiro grão-pemedebê que falou ao repórter disse que, entretido com o jogo Flamengo X Goiás, ainda não havia lido as declarações de Lula. Estranhou o relato do repórter acerca da menção aos dois palanques.

Lembrou que o PMDB comparecerá às urnas da Bahia com a candidatura do ministro Geddel Vieira Lima, contra o projeto reeleitoral do petista Jaques Wagner. No caso baiano, o PMDB exige a efetivação da política do palanque duplo. Algo “muito complicado”, no dizer de Lula.

O tucano José Serra não está alheio à encrenca. Na semana passada, Geddel foi a São Paulo, para um seminário da área da defesa civil. Serra comprometera-se a dar as caras. Mas não foi.

Depois, a pretexto de explicar-se sobre a ausência, o presidenciável tucano chamou Geddel para uma conversa privada. Lero vai, lero vem, falaram sobre 2010. Geddel não deu esperanças a Serra. Ao contrário. Foi taxativo quanto aos compromissos que o ligam a Dilma. Depois, relatou o encontro a Lula.

O diabo é que a fidelidade de Geddel ao pré-acerto com o PT está condicionada à efetivação do duplo palanque na Bahia, lembrou o pemedebê ao repórter. São essas as encrencas que vão à mesa na reunião de quarta. O PMDB cobrará do PT um pingo de "solidariedade regional".
Escrito por Josias de Souza às 05h51

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