quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Vôo de frango. Beijo em sapo.










As eleições mudam muito, não só de candidatos e modos de divulgação destes – a lei parece que muda até mais rápido – mas de posicionamentos. Antigamente, um candidato, para angariar votos, tinha que ter posições, tinha que ter ideais, tinha que ter cara.
Hoje em dia, isso não importa mais, pois basta ter dinheiro que se elege, correto? Erradíssimo. Não é bem assim. Uma eleição com MUITO dinheiro é um excelente começo, mas depende do tipo de eleição. Uma coisa é a eleição majoritária, onde o “sangue corre”, as pessoas se envolvem, se apaixonam e zebras e surpresas acontecem, outra coisa é a eleição proporcional.
Considerada injusta por eleger candidatos com menos votos e deixar campeões de votos de fora, a votação proporcional tem vários equívocos, mas também muitos acertos. Um equívoco é a falta de fidelidade partidária, que existe de direito, mas de fato só funcionou em um ou dois casos. Um acerto é distribuir os votos pelos partidos que apóiam determinada candidatura, pois se estes têm o ônus, também merecem o bônus em caso de o favorecido, pelo apoio, puxar os votos. Sempre temos exemplos de favorecidos por isso, sempre.
É claro que deveria haver limites, pois o caso de Enéas, que “carregou” candidatos com menos de 100 votos e os colocou representando o Estado de São Paulo como deputados federais, são verdadeiros absurdos, mas isso é tema para outros debates. Mas vamos voltar ao tema do título, aos “frangos”.
É notória a presença, em todas as eleições, de candidatos que não têm a menor chance, mas com uma matemática de causar inveja a Oswald de Souza, se dizem “eleitos”, porque “Fulano” terá tantos votos e com a votação de “Cicrano” e com a relação “votos da chapa majoritária” x “votos da chapa proporcional”, ele vira deputado, aliás, já encomendou até o terno. Cafona, diga-se de passagem...
As pessoas não entendem, ou o ego não deixa entender, que uma eleição não é uma brincadeira e que uma eleição de vereador em uma cidade de porte médio, não o catapulta para uma de deputado estadual e muito menos a uma de deputado federal.
Cada eleição tem sua história, suas vitórias e derrotas, seus mistérios.
Um grupo político - confiável - não nasce da noite para o dia. São anos de trabalho e reconhecimento. A eleição de Azevedo em Itabuna, por exemplo, não foi feita da noite para o dia, nem foi fruto de uma estratégia de marketing como muitos acreditam. Foi um trabalho de formiguinha, de décadas, que germinou no momento certo.
E, voltando aos frangos, vejo muitos “quase-deputados” que acham que seus belos olhos, sua “audiência” no rádio ou na TV ou sua polpuda conta bancária lhe garantirão o tão desejado posto e suas benesses, mas que após a campanha tomam um belo tombo. Uns, diante do fatídico e previsível resultado, até se dizem traídos, desiludidos com a política. Assustados. Espantados.
Acontece que, se antigamente, uma eleição para deputado estadual ou federal, garantia ao vereador ou ex-candidato a vereador uma projeção do nome, uma “sacudida” no eleitorado, o capacitando a granjear mais votos na outra eleição, hoje em dia, pela explosão populacional e pela quantidade de informações disputando a atenção do eleitor, isso raramente acontece. E muito vereador sai menor do que entrou em uma eleição para deputado. E ao invés do tão desejado vôo de sucesso para a capital do Estado ou do País, o que o “deputado” consegue é um vôo curto, pequeno, ridículo. Um verdadeiro vôo de frango.
Consciência e caldo de galinha não fazem mal a ninguém. Vamos ter ambições, políticas ou não, construir candidaturas, defender os ideais – e não o bolso – e lutar por eles, mas temos que saber, que não adianta beijar sapo, que ele não vai virar príncipe. Nunca.

Afonso Dantas , Sócio e Diretor de Criação da Camará Comunicação Total
afonso.dantas@camaracomunicacao.com.br

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