sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Enviado por Ricardo Noblat -
Conivência (Editorial de O Globo)
O Rio se tornou símbolo do agravamento do problema de segurança pública no país por vários motivos.
Tem uma região metropolitana em que, devido à forma como foi urbanizada, e por erros de planejamento cometidos pelo poder público há muito tempo, existem bolsões de favelas em bairros de renda mais elevada.
Como em vários casos esses bolsões se converteram em santuários de traficantes, explosões de violência ocorridas nessas regiões têm repercussão nacional e internacional instantânea.
Outro aspecto é que, na cidade, há organizações criminosas em luta constante, ao contrário de São Paulo, por exemplo, onde um bando é hegemônico.
Por estas e outras razões, a cidade e o estado passaram a buscar, de forma mais intensa, apoio federal no enfrentamento do problema.
E até hoje esse suporte deixa a desejar, sem que se possa culpar limitações legais à atuação de Brasília em questões de segurança pública.
A revelação, feita pelo GLOBO de ontem, de que jazem num galpão da Polícia Rodoviária Federal, na Dutra, em Irajá, equipamentos essenciais para coibir o abastecimento de drogas e armas da região metropolitana carioca é prova concreta do descaso com que áreas do governo federal tratam do assunto.
Desde 2007, estão encaixotados 55 esteiras de raios X e quatro portais gigantes de scanner.
Os equipamentos custaram R$ 90 milhões, pagos pela Secretaria Nacional de Segurança Pública, do Ministério da Justiça, e têm extrema importância, pois as quadrilhas são municiadas e abastecidas de mercadorias transportadas basicamente de carros, caminhões e ônibus.
Sobram discursos e faltam ações no governo federal. Deixar os equipamentos sem uso — mesmo conservados — é uma inaceitável e estrondosa demonstração de incompetência que, na prática, se converte em conivência com o crime.
O superior hierárquico da Polícia Rodoviária, ministro Tarso Genro, deu declarações de praxe ontem no Rio: as responsabilidades serão apuradas etc.
É o mínimo que se espera. Concordou, ainda, ser inadmissível o abandono do material. Tem sido comum no governo Lula autoridades exercerem a função de comentaristas da realidade.
Algo no figurino de Fidel Castro, conhecido pelas críticas furibundas às ineficiências administrativas do regime cubano, como se nada fosse de sua responsabilidade.
Que pelo menos na grave questão da segurança pública, agravada não apenas no Rio, o truque não venha a ser repetido.

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