segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Mais uma de Sebastião Nery


A LIÇÃO DE VERSAILLES

PARIS – Daqui de cima desse esplendido “Salão dos Espelhos”, Maria Antonieta disse que se o povo não tinha pão comesse brioche. Também não havia brioche para comer. Comeram o reino dela, o pescoço dela, do marido dela, da família dela. Só restou o rei sobre seu cavalo, na frente do palácio. E a nevoa desmanchando a tarde ensolarada de outono e compondo a noite, como o tempo que desmanchou a eternidade deles.

Já lá se vão mais de 50 anos, sempre que volto a Paris venho a Versailles. Foi aqui que tudo começou, que a revolução francesa fez com sangue o parto da democracia. O mundo deve muito ao pescoço dela.

MARIA ANTONIETA

Do alto dessas janelas que vêem o infinito sobre jardins desenhados e lagos mansos, bosques de pé e campos deitados, Luis XVI e Maria Antonieta jamais imaginaram que um dia tudo isso ia se acabar como se acabou : levando seus divinos pescoços. Em frente ao palácio, dois prédios solenes : um era a estrebaria do rei o outro a estrebaria da rainha. Lá ficavam seus cavalos e éguas. Povo, nem pensar.

Era aqui o “chateau” onde o rei e a rainha passavam os fins de semana, as férias, e, quando a revolução começou, se escondiam da fúria do povo. No outono passado, não havia este sol de quase inverno chegando A tarde estava coberta por uma bruma fria que descia sobre as arvores secas. De quando em vez, uma folha caia devagar, como uma lagrima.

ROBESPIERRE

As alamedas enevoadas cheias de faróis acesos e turistas encapotados. Só faltavam mesmo, aqui, nos salões, quartos, pátios e corredores imensos, eles, os reis e seus nobres de roupas complicadas e cabelos encaracolados. Aqui é uma Universidade do poder. Ninguem, por mais poderoso, é eterno. Quem derrubou o rei também pensou que era.

Robespierre, 30 anos, furioso à frente das multidões, proclamou-se “Pontífice do Ser Supremo”, vestiu uma bata longa, cintilante, pôs um barrete frigio, de cardeal, e desfilou em Paris à frente de todos. Nas mãos, rosas e espigas, como em um gala-gay. E de 24 de outubro de 1793 a 27 de junho de 1974, oito meses, Robespierre guilhotinou a cebeça de 2.596 pessoas. Só em Paris. No interior, outro tanto. Até que cortaram a dele.

BOLIVAR

É um engano pensar que só nascem tiranos nas tiranias. Nas democracias, também. O grego Sófocles, 500 anos antes de Cristo, avisou, no Édipo Rei, que “o tirano nasce do ventre da insolência e não sai do poder pela propria vontade”. O russo Dostoievski, que sofreu a tirania nos grilhões da “casa dos mortos”, a prisão da Sibéria onde esteve preso e estive visitando, ensinou que “a tirania acaba virando doença”.

Mais perto de nós, Bolívar, heroi da unidade sulamericana, avisou:

- “Nada é tão perigoso como deixar um cidadão permanecer no poder por muito tempo. O povo acostuma-se a obedecer e ele a mandar, de onde se originam a usurpação e a tirania”.

Uma lição para Chávez, Lula, o PT e o PMDB da goela grande.

GISCARD

Historias de rainhas e princesas não sumiram nos tempos. Dias atrás, aqui na França, apareceu mais uma. O pais viveu, nas ultimas semanas, uma bela e espantosa surpresa, como dos tempos das mil e uma noites. Era uma vez um presidente e uma princesa que perdidamente se apaixonaram. E viveram uma tórrida historia de amor. Tudo natural se não tivesse sido há pouco, os dois muito conhecidos, ele o presidente da França e ela a princesa Diana. E ele ainda vivo e escrevendo e publicando a historia toda.

Em 300 paginas (“La Princesse et le President”), Valery Giscard d`Estaing, que presidiu a França de 1974 a 1981 e é membro da Academia Francesa, conta tudo, as cenas de amor, muitas delas picantes. Mudou apenas os nomes: Valery Giscard d`Estaing para Jacques Henri Lambertye e Diana, Princesa de Galles, para Patrícia, princesa de Cardiff.

DIANA

A historia dos dois, ele presidente da França, alto, magro, elegante, viúvo, e ela, “deusa de olhos de água-martinha”, casada e depois se separando do príncipe Charles, herdeiro do trono da Inglaterra, é fascinante. Uma semana antes do casamento, Charles disse a Diana que tinha uma amante e ia continuar. Ela foi à Rainha e comunicou que não iria mais casar-se. A Rainha entrou em pânico. Seria a desmoralização da Casa Real. Pediu-lhe que se casasse e depois ela resolveria o problema.

Não resolveu. A princesa ficou lá no seu palácio como uma gata borralheira. Ainda teve dois filhos.Mas “queria um amor, um grande amor”

Depois de algumas aventuras com guarda-costas, encontrou o amor.

CAMILA

Era o presidente da França. Encontros furtivos, difíceis, às vezes rocambolescos, em Londres, para se livrarem da imprensa e da segurança dela, depois mais faceis em Paris e em um castelo da família dele no interior da França, mesmo assim sempre driblando a imprensa e a segurança do governo francês, está tudo lá, casas de campo, caçadas.

Ela queria casar-se. Ele não. Terminaram. E a bela Diana explodiu embaixo do túnel em frente à embaixada brasileira, com o namorado árabe.

O filho do ex-presidente, Louis Giscard d`Estaing, aplaudiu o pai :

- “Entre Lady Di et Camilla, il a fait le bon choix” (”Entre a Lady Di e a Camila, ele fez a boa escolha”).

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