quinta-feira, 19 de março de 2009

A construção da mulher

Não sei se os pais têm consciência do quanto influenciam os filhos na construção de sua identidade, especialmente a de gênero, ou seja, a ideia do que é ser mulher ou homem atualmente. Hoje, vamos tratar da identidade feminina, já que acabamos de passar pelo Dia Internacional da Mulher.

Antes mesmo que a filha possa aprender qualquer lição educativa, inclusive as que dizem respeito ao significado de ser mulher em nossa sociedade, seus pais já incluem em sua vida inúmeros componentes relacionados. Na maternidade, muitas recebem um laço de fita nos cabelos e roupas bem femininas, sem falar das orelhas furadas para brincos. Pois bem: tudo isso significa, para esse bebê do sexo feminino, seu introito nos rituais de beleza que deverão fazer parte de sua vida.

E é assim mesmo, muitas vezes sem que os pais se deem conta, que começa a ser forjada a identidade da futura mulher.Logo mais, outros colaboradores irão interferir decisivamente nessa construção: a escola e, de forma impactante hoje, os meios de comunicação.

O problema maior da educação de meninas é que todos os estereótipos ainda presentes no papel da mulher são transmitidos de maneira sutil e sedutora. Por mais que já se tenha tratado do assunto, na primeira infância a escolha dos brinquedos para as meninas, por exemplo, reflete a maneira como a sociedade responsabiliza a mulher pelas tarefas domésticas. Enquanto as meninas ganham réplicas de utensílios domésticos, muitas adultas ainda carregam esse estereótipo. Já ouvi, por exemplo, jovens mulheres declararem que seus maridos as ajudam muito nos trabalhos domésticos. Ora, ajudar não é se corresponsabilizar.

A sorte das meninas é que na escola de educação infantil ainda têm mais facilidade para escolher brinquedos e brincadeiras socialmente atribuídas ao outro gênero, mesmo que lá persistam muitos estereótipos e preconceitos de gênero. Aliás, é na escola de educação infantil que podemos testemunhar que a atribuição social pela educação de crianças pequenas é dada às mulheres. É rara a presença de homens nessa função, não é? E ouvi uma queixa interessante de um pai: quando sai com o filho, tem muita dificuldade de achar um fraldário a que tenha acesso: a maioria está no banheiro feminino!

A questão da aparência tem sido um fator demasiadamente importante na construção da identidade feminina. Desde o nascimento, a menina é submetida a um ideal de beleza: o modo como se veste, os acessórios que usa, o corte de cabelo que adota etc. são itens que apontam que a aparência quase se confunde com quem ela é. A anorexia e a bulimia são doenças que mostram a versão exagerada da busca por um padrão de perfeição de beleza e controle do corpo.

A construção da identidade feminina é um processo social que não podemos naturalizar -ou seja, ninguém nasce mulher, se comporta de tal maneira por ser do sexo feminino. A mulher é construída e, nesse mundo em transformação, os pais precisam saber que é deles grande parte dessa função.

Rosely Sayão

 http://blogdaroselysayao.blog.uol.com.br/

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