quinta-feira, 19 de março de 2009

do blog do Boni: http://bloglog.globo.com/boni/

UMA SAÍDA PARA A CRISE

Tokyo acaba de assumir a primeira posição no “ranking” das cidades mais caras do mundo. E eu senti isso no bolso e no estômago. Chegamos tarde da noite no hotel, vindos de Pequim, na China, e resolvemos procurar um restaurante aberto para comer uma comida local.  Diferentemente dos restaurantes japoneses daqui, os restaurantes japoneses de Tokyo são especializados e assim um lugar de peixe não tem tempura e um de carne só tem carne mesmo. Os mais simples são diferenciados por uma bandeira (noren) na entrada. Azul é de frutos do mar, por exemplo. Tokyo é a cidade que tem mais restaurantes três estrelas dadas pelo Guia Michelin, todos sensacionais. Mas aquela hora, nenhum deles estava disponível. Achamos um barzinho de “sashimi” e entramos. Havia um “nama uni” (ouriço do mar cru) que era uma maravilha. Todos comeram, mas eu e um amigo e a mulher dele não tivemos sorte: ou comemos demais ou comemos algum estragado. A higiene no Japão é total, mas essas coisas podem acontecer. O fato é que na manhã seguinte pegamos um trem bala para Kyoto. O bolso havia doído à noite. Mesmo sendo simples o barzinho nos cobrou o equivalente a vinte dólares por cada ouriço, não muito maior que duas azeitonas. Agora a dor era de barriga. Nós três ficamos verdes e o pior é que parecia que todos no trem tinham comido ouriço também. No vagão haviam dois banheiros, um masculino e outro feminino e nos dois haviam filas. Os japoneses são extremamente gentis e cavalheiros, especialmente com estrangeiros, mas fila de banheiro é fila de banheiro em qualquer lugar do mundo.  A gente não agüentava esperar. A mulher do meu amigo, esfregando a barriga com a mão, foi pedindo licença, em português mesmo, em inglês, em francês e foi furando a fila. Deparou-se no final com uma japonesa mal humorada que não lhe cedeu a vez. Ela não teve conversa, deu um sopapo na japa, esmurrou a porta e invadiu o banheiro. O marido dela, meu amigo, fazia gestos e, apontava a bunda, e em vez de falar emitia sons que imitavam o ato de defecar: ....prurrum....prurrum. Um horror. Mas foi passando e ele conseguiu se abrigar no banheiro da outra porta do vagão. Eu, mais tímido e sem nenhum conhecimento de japonês, vendo que o inglês não funcionava, tirei umas notas de cinqüenta dólares e distribuí na fila. A maioria aceitava. Outros riam e me deixavam ultrapassá-los. O trem bala corria a uma velocidade de Fórmula 1. Respirando fundo, fui galgando posições até ganhar a “pole position” na porta do banheiro. Estava tão alucinado que ouvia o Galvão Bueno gritando: - É do Brasil!!!! Boni do Brasil assume a poooonta!!! Entrei. Os banheiros dos trens, no, Japão são abertos embaixo e, enquanto eu me livrava dos ouriços de vinte dólares, que com o suborno na fila, já estavam valendo quinhentos, eu olhava para baixo e via os trilhos passando rápido, tão rápido que eu tinha medo que chegasse a Kyoto antes de terminar a minha obra. Eu não conseguia sair dali. Idiota, comecei a me preocupar com a fila de espera. E se tivesse alguém na minha situação? Quando alguém batia na porta eu respondia em bom português: Tem gente! Finamente saí. Não havia ninguém na fila. Provavelmente foram todos para outros vagões. Voltei ao meu lugar no trem e como as cólicas continuavam, pelo sim ou pelo não, separei mais umas notas de dinheiro. Não deu outra, levantei de novo para ir ao banheiro. Não havia ninguém na porta, mas quando me viram levantar, os caras da frente correram e, imediatamente, formaram uma fila. De novo saí dando a grana e conquistei o bicampeonato. Como não havia vaso sanitário no banheiro do trem , eu de cócoras, segurando as calças, pensava: Se todo mundo que comer ouriço der uma graninha para furar a fila do banheiro, a crise está resolvida... pelo menos no Japão.

Boni

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